Avaliação Neuropsicológica

Marcela Lopes

O que é

A avaliação neuropsicológica é um método de investigação clínica, que tem por objetivo responder questões sobre o funcionamento cognitivo, comportamental e emocional, diferenciando-se de outras modalidades de avaliações, incluindo as psicológicas, por estabelecer correlações entre as queixas trazidas pelos pacientes e o funcionamento do sistema nervoso central, sendo considerada uma avaliação funcional do cérebro. Sabe-se hoje que as funções cognitivas não são mediadas por regiões específicas do cérebro, mas produto de uma grande rede neural interconectada, envolvendo múltiplas regiões, que dão origem a atividade mental.

Todas as ações humanas são produtos destes processos mentais, denominados cognição. Ações como ouvir, falar e aprender uma nova informação, tão automatizadas no nosso cotidiano, requerem a articulação de várias unidades de processamento de informações, de tal modo que nenhum computador seria capaz de se aproximar. Goldberg (2002) compara as funções cognitivas a uma grande orquestra, onde instrumentos funcionando de forma coordenada, produzem uma linda sinfonia, no entanto quando há um instrumento “desafinado”, o “espetáculo” fica prejudicado.

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Como é feita

Na avaliação neuropsicológica moderna, o foco da investigação está no processamento da informação e nas diferentes operações mentais envolvidas na execução de determinadas tarefas cotidianas. Assim, atividades cuidadosamente desenvolvidas para acessar diferentes domínios cognitivos são aplicadas no paciente, com objetivo de reproduzir no contexto do consultório, comportamentos presentes na rotina natural do paciente. A análise das respostas é realizada de acordo com parâmetros populacionais, sempre tendo como base o comportamento-problema que motivou a avaliação e, principalmente, os eventos observados durante a execução das atividades. O produto desta análise corresponderá ao perfil neuropsicológico do paciente e permitirá fazer inferências sobre a sua funcionalidade no dia a dia, ou seja, o quão bem ele está desempenhando as atividades cotidianas, como também sobre facilidades e dificuldades específicas, que podem ser decorrentes de desordens neurológicas e outros transtornos, favorecendo o diagnóstico precoce e o planejamento de intervenções direcionadas e programas de reabilitação.

De acordo com Malloy-Diniz e outros autores (2016), o exame neuropsicológico é um processo fechado, com duração variável, conforme a complexidade do caso, composto por algumas etapas principais, que compreendem: entrevista abrangente, realizada com o paciente e outros informantes confiáveis, em geral familiares, onde é investigado o histórico de vida e dificuldades atuais do paciente, observação do comportamento no consultório e, se possível, em outros contextos frequentados pelo paciente, levantamento das hipóteses diagnósticas a serem testadas, seleção e aplicação das atividades de investigação (testes padronizados, tarefas e escalas) e por fim integração e interpretação das informações, inferências diagnósticas e delineamento das intervenções.

Indicações

A avaliação neuropsicológica é indicada em uma variedade de situações, sendo que em alguns casos ela configura como elemento obrigatório ao diagnóstico e em outros somente como complementar. Há ainda casos, em que o exame não tem a finalidade de diagnóstico, mas de favorecer a funcionalidade do paciente por meio da identificação de facilidades e dificuldades. Deste modo, destacam-se abaixo algumas situações relacionadas à indicação do exame neuropsicológico:

  • Situações em que a avaliação da cognição é obrigatória para definição diagnóstica (ex. demências, deficiência intelectual, transtornos de aprendizagem);
  • Nos casos em que o perfil neuropsicológico pode contribuir para o diagnóstico diferencial, ou ainda para identificação de comorbidades (ex. Transtorno depressivo e/ou Demência; TDAH e/ou Ansiedade);
  • Situações em que há relatos de alterações comportamentais, cognitivas, emocionais e sociais após vento traumático no sistema nervoso central (ex. traumatismo cranioencefálico, epilepsia, doenças endócrinas, tumor cerebral);
  • Situações em que a pessoa não tem a eficiência neuropsicológica necessária para executar com autonomia e crítica as atividades cotidianas, acadêmicas, profissional e social (ex. Deficiência Intelectual e outros transtornos do neurodesenvolvimento graves);
  • Para documentação do perfil neuropsicológico atual (ex. Casos de famílias com índice aumentado para doenças degenerativas, cirurgia neurológica com risco de sequelas).

Em suma, a avaliação neuropsicológica é um importante exame complementar na prática clínica, principalmente quando há suspeitas de um déficit cognitivo, constitucional ou adquirido, que impacta no manejo das situações de vida diárias, neste caso no comportamento propriamente dito. Vale lembrar ainda, que devido a sua alta sensibilidade, há transtornos como no caso da deficiência intelectual e demências, que não são detectados em exames de imagem, o que torna a avaliação ainda mais relevante para o diagnóstico precoce e o planejamento de rotinas de intervenções adequadas.

Referências

Goldberg E. O cérebro executivo: Lobos frontais e a mente civilizada. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
Malloy-Diniz LF, Mattos P, Abreu N, Fuentes D. Neuropsicologia: Aplicações Clínicas. Porto Alegre: Artmed, 2016.