Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)

Rodrigo Fernando Pereira

Embora as terapias cognitivo-comportamentais (TCC) já existam há algum tempo, elas estão em constante mudança. Novas técnicas e formas de conduzir a terapia vêm sendo estudadas e implementadas na prática, sempre buscando melhores resultados e bem estar para o cliente. Atualmente, as TCCs estão na sua chamada “terceira onda”, ou seja, terceira fase de desenvolvimento. Segundo Hayes, Follette e Linehan (2004), as abordagens, hoje, em vez de lidar com os pensamentos tentando mudar e reestruturar o seu conteúdo, focam na relação entre a pessoa e seus pensamentos e sentimentos.

Dentro desse contexto, está a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), desenvolvida por Steven C. Hayes e colaboradores, a partir de 1999. O objetivo da ACT é “aumentar a flexibilidade psicológica, ou seja, a habilidade de entrar totalmente em contato com o momento presente e com as reações psicológicas que ele produz. A partir disso, manter ou mudar o comportamento na situação de acordo com os valores que a pessoa tem” (Fletcher & Hayes, 2004, p. 319). O objetivo primordial desse tipo de terapia é que o cliente passe a ter mais consciência das suas emoções e pensamentos, para reagir a eles da forma que julga ser melhor de acordo com seus valores.

Um aspecto fundamental da ACT é a noção de aceitação. Isso significa não lutar o tempo todo contra os sentimentos aversivos que surgem, como ansiedade, raiva, frustração, e sim deixá-los surgir, observá-los e deixá-los passar, desenvolvendo uma ação mais consciente em relação a eles. No mundo atual, por influência principalmente da mídia, temos a ideia de que não podemos sofrer por um minuto sequer e que, se estamos sofrendo, há algo de errado conosco. Por isso, fazemos de tudo para evitar esses sentimentos, às vezes até recorrendo a saídas muito mais prejudiciais, como uso de drogas, comportamentos de risco etc. Com a ACT, trabalhamos a noção de que ter sentimentos negativos é natural e que é mais produtivo aceitá-los e encará-los do que tentar fugir deles a todo custo.

A partir do momento em que se consegue lidar com as emoções provocadas por situações difíceis sem ter que fugir delas, é possível adotar uma atitude mais coerente com aquilo que queremos para nossas vidas, ou seja, com nossos valores. A noção de compromisso da ACT é justamente essa: ações e mudanças voltadas para aquilo que julgamos importante, não para fugir daquilo que nos incomoda. Para isso, são trabalhadas diversas técnicas a fim de estabelecermos um "eixo" significativo para a vida do cliente.

Em suma, os pilares da ACT são: contato com o momento presente, aceitação dos pensamentos e emoções e ação de acordo com os valores individuais estabelecidos em sessão. A ACT é uma abordagem bastante recente, mas já com resultados comprovados cientificamente, classificando-se como uma prática psicológica baseada em evidência que pode ser de grande valia para aqueles que têm dificuldades em lidar com os problemas emocionais decorrentes das demandas do mundo moderno.

A ACT é uma das modalidades de terapia realizadas no Núcleo Interface de Psicologia.

Referências

Fletcher, L., & Hayes, S. C. (2005). Relational frame theory, acceptance and commitment therapy, and a functional analytic definition of mindfulness. Journal of Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Therapy, 23, 315-336. 
Hayes, S. C., Follette V., & Linehan, M. (Orgs.) (2004). Mindfullness and acceptance: Expanding the cognitive-behavioral tradition. New York: Guilford Press. Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and commitment therapy: An experiential approach to behavior change. New York: Guilford Press.