Síndrome de Burnout (Esgotamento)
O termo burnout foi citado nos anos 1970 pela primeira vez pelo psicólogo americano Herbert Freudenberger. Burnout significa falta completa de energia e se refere a um estado de esgotamento, geralmente ligado a um estresse contínuo causado por demandas de trabalho. Embora o conceito tenha surgido num contexto de profissões que envolviam ajudar outras pessoas (como médicos e enfeirmeiros), hoje pode ser visto afetando qualquer categoria de profissional.
Embora esteja presente no Catálogo Internacional de Doenças (CID 10 — Z73.0, descrito como um estado de exaustão vital), o quadro está na seção de problemas relacionados ao manejo de vida, ou seja, é preciso levar em consideração o contexto em que a pessoa está e que pode estar levando a existência do burnout. O burnout não é, então, entendido como uma doença, não constando, por exemplo, do DSM-5 (catálogo de transtornos mentais).
O burnout está cada vez mais prevalente entre profissionais, chegando a atingir mais de 50% em algumas profissões. A síndrome também pode estar presente em populações de jovens e adolescentes que sofrem pressões em relação ao desempenho acadêmico e ingresso em boas universidades.
Os sintomas do burnout se apresentam em três áreas:
- Exaustão: tanto emocional quanto física, envolve dificuldade de tolerar situações difíceis, cansaço, desânimo e falta de energia; fisicamente, pode envolver dores de estômago e problemas intestinais.
- Alienação em relação a atividades ligadas ao trabalho: trabalhar fica cada vez mais estressante e frustrante; cinismo em relação às condições de trabalho e colegas; distanciamento emocional e embotamento.
- Desempenho reduzido: afeta tarefas diárias no trabalho, em casa ou no cuidado com familiares; negativismo em relação às tarefas, dificuldades de concentração e falta de criatividade.
Existem alguns fatores de risco que podem elevar a chance da ocorrência do burnout. Esses fatores podem estar no ambiente ou serem características do indivíduo. Entre os fatores ambientais, estão:
- Burocracia
- Falta de autonomia
- Normas institucionais rígidas
- Mudanças organizacionais frequentes
- Falta de confiança e respeito entre membros da equipe
- Comunicação ineficiente
- Acúmulo de tarefas (sobrecarga)
- Impossibilidade de subir na carreira
- Ambiente físico insalubre
Já entre as características do indivíduo, listam-se:
- Tipos de personalidade suscetíveis ao estresse, que tentam controlar excessivamente as situações, competitivos e esforçados
- Responsabilização dos outros pelo sucesso ou fracasso em suas vidas
- Envolvimento excessivo em suas atividades
- Pessimismo, perfeccionismo e alto nível de idealização e expectativas sobre profissão
- Nível educacional mais elevado
- Solteiros, viúvos ou divorciados
Tratamento
Uma vez que os fatores causadores do burnout estão em vários níveis, a sua real prevenção precisaria ocorrer também em nível organizacional e social, não apenas no individual. Entretanto, muitas empresas e instituições não demonstram esse cuidado, ficando a cargo do indivíduo buscar algum tipo de apoio, na forma de psicoterapia.
Existem evidências de que a Terapia Cognitivo Comportamental apresenta bons resultados no tratamento dos aspectos individuais do burnout. Novas técnias de terapias, como as baseadas em mindfulness e a Terapia de Aceitação e Compromisso também têm tido resultados promissores frente a contextos de estresse prolongado. Essas modalidades são empregadas pelos profissionais do Núcleo Interface de Psicologia Clínica.
Embora a terapia possa ajudar, se não ocorrem mudanças no ambiente profissional da pessoa, o sofrimento pode continuar sendo alto. Nesses casos, o indivíduo pode considerar suas escolhas de vida e buscar ambientes mais saudáveis. O mais importante é a compreensão de que o burnout não é uma doença da pessoa que está sofrendo com o quadro, e sim um conjunto de sintomas relacionado ao ambiente de trabalho e também à forma como a pessoa lida com ele. Em ambos os casos, a mudança é possível.
Referências
PubMed Health. (2009) Depression: What is burnout? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMH0072470/
Trigo, Telma Ramos, Teng, Chei Tung, & Hallak, Jaime Eduardo Cecílio. (2007). Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 34(5), 223-233. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000500004
World Health Organization. (1992). The ICD-10 classification of mental and behavioural disorders: clinical descriptions and diagnostic guidelines (Vol. 1). World Health Organization.
World Health Organization. (1992). Guideline for the prevention of mental, neurological psychosocial disorders (5. Staff Burnout). World Health Organization.