Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)*

*traduzido e adaptado de: www.nhs.uk por Monique Vardi Pinheiro

 

Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno mental classificado no DSM-V — Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais — que apresenta uma série de sintomas que podem ser agrupados em 4 áreas principais:

  • Instabilidade emocional (ou desregulação emocional)

  • Distorção de padrões de pensamentos ou da percepção 

  • Comportamento impulsivo

  • Relacionamentos intensos ou instáveis com outras pessoas

Instabilidade emocional

Experiência de uma serie de sentimentos negativos intensos, tais como:

  • Raiva

  • Mágoa

  • Vergonha

  • Pânico

  • Terror

  • Sentimentos duradouros de vazio e solidão

O individuo com TPB pode apresentar variações drásticas de humor em um pequeno espaço de tempo. É comum que pessoas com TPB sintam-se desesperadas e tenham vontade de suicidar-se num momento e depois sentem-se relativamente bem apenas algumas horas depois. Os padrões de comportamento e sentimentos variam, mas a condição chave é que o humor varie de forma imprevisível.

 

Distorção de padrões de pensamento

Existem três níveis de distorção dos padrões de pensamentos que afetam pessoas com TPB. Esses são avaliados de acordo com a gravidade.

  • Pensamentos desagradáveis, como de pensar ser um pessoa terrível ou sentir que não existe. A pessoa pode não ter certeza destes pensamentos mas procura reafirmação constante de que estes não são verdadeiros

  • Episódios breves de experiências estranhas, como, por exemplo, ouvir vozes e não saber se elas existem mesmo ou não 

  • Episódios prolongados de experiências anormais, como alucinações ou crenças das quais é difícil de ser convencido/a do contrário. Sinais de delírio significam que a condição está piorando e buscar ajuda imediata é fundamental

Comportamento impulsivo

O indivíduo com TPB podem se deparar com dois tipos principais de impulsos difíceis de controlar

  • Impulso de machucar-se  propositadamente (automutilação). Em casos graves, esses impulsos podem se tornar mais intensos e pensamentos suicidas podem se instalar 

  • Impulso de se envolver em atividades irresponsáveis e perigosas que podem envolver drogas, álcool, sexo com estranhos, gastar mais do que se pode. Comportamentos impulsivos são mais perigoso se a pessoas estiver em estados mais graves de psicose, já que  julgamento deles estão danificados

Relacionamentos instáveis

Indivíduos com TPB podem se sentir abandonados quando mais precisam de outras pessoas ou aproximar-se demais dos outros e "sufocá-los" emocionalmente.

Quando pessoas com TPB sentem-se abandonadas, podem sentir emoções intensas de ansiedade e raiva. Assim, tentam maneiras exageradas de prevenir o possível abandono:

  • Constantemente ligar ou enviar mensagens de texto para alguém

  • Ligar para alguém de repente no meio da noite

  • "Grudar" em alguém e recusar de separar-se

  • Fazer ameaças de se machucar ou matar-se caso o outro o deixe

Em contra partida, é possível também que a pessoa sinta que outros estão a sufocando emocionalmente ou controlando, o que causa sentimentos intensos de medo e raiva.

O indivíduo também pode reagir de forma a "forçar" que outros o deixem em paz, isolando-se, rejeitando outros ou usando de abuso verbal.

Esses dois padrões geralmente levam a relacionamentos  instáveis de "amor e ódio" com certas pessoas.

Muitos indivíduos que apresentam sintomas de TPB parecem estarem presos a uma maneira rígida de ver e avaliar as coisas (ex: “tudo em branco ou preto", "8 ou 80"). Em um determinado momento o outro é perfeito e maravilhoso, e no outro a pessoa é terrível. Pessoas com TPB tem dificuldade em ver o meio-termo das situações. Isso geralmente torna-se confuso para as pessoas no relacionamento e muitas vezes leva casais a terminarem ou amigos e familiares a brigarem.

 

Por que é tão difícil diagnosticar o transtorno de personalidade borderline?*

*Texto inspirado dos conceitos extraídos do livro Vencendo O transtorno de Personalidade Borderline com terapia cognitivo-comportamental da Dra. Marsha Linehan (1993)

Uma das considerações principais da teoria biossocial do TPB é a desregulação emocional. Isso é entendido como resultado da interação entre disposição biológica e o contexto ambiental no decorrer do desenvolvimento. Sendo assim, o indivíduo acaba tendo dificuldade em modular suas emoções de uma forma adaptada e apropriada quando algo acontece e afeta seus sentimentos. Essa vulnerabilidade acaba acontecendo pois faltam estratégias adequadas para lidar com as emoções. Frente a isso, já que as repostas não são consistentes e mudam de acordo com a situação, a pessoa com TPB acaba sendo constantemente criticada e considerada como manipulativa. Assim, outras pessoas tendem a reagir mal ao indivíduo com TPB e sentem-se manipulados por eles.

Características da vulnerabilidade Emocional:

  • Sensibilidade elevada a estímulos emocionais (reage rapidamente quando emotivo/a)

  • Resposta intensa a estímulos emocionais (reage de forma desproporcional às situações)

  • Retorno lento ao nível basal emocional depois que ocorreu a excitação emocional (dificuldade em acalmar-se)

 

O que é modulação emocional?

Capacidade de:

  • Inibir o comportamento inapropriado relacionado com emoções negativas ou positivas fortes

  • Organizar-se para agir de forma que não dependa do humor

  • Acalmar qualquer reação fisiológica (ex: taquicardia, sudorese, choro, etc) que tenha sido iniciada por causa da forte emoção 

  • Retomar o foco da atenção mesmo quando sob efeito de fortes emoções

Assim sendo, a disposição biológica – mas não somente pela hereditariedade, mas também pela forma como o bio-psico-social interage no desenvolvimento de um indivíduo, pode acarretar numa forma desorganizada de regulação emocional. Como cada pessoa tem uma disposição biológica diferente, dai a dificuldade em realmente diagnosticar o TPB com firmeza.

Vale lembrar que a Terapia Comportamental Dialética (TCD) vem mostrando excelentes resultados em pesquisas controladas no exterior como uma maneira eficaz de tratamento para TPB, ajudando indivíduos que sofrem com o transtorno a aprender estratégias mais adequadas para lidar com suas fortes emoções.