Pode ser difícil saber se um determinado comportamento é um simples hábito ou uma adição. Adição ou comportamento aditivo é o nome técnico para vício. Um aspecto básico da identificação de uma adição é o quanto ela priva a pessoa da própria liberdade. A pessoa adita não parece ter escolha em relação ao vício e pode até mesmo ir às últimas consequências para manter a adição. Isso pode trazer consequências drásticas para si mesma e para as pessoas com quem ela convive.
Quando pensamos em adições, logo associamos com substâncias como álcool, drogas e medicamentos. Entretanto, o padrão de adição pode estar ligado a relacionamentos, poder, dinheiro, controle, comida e assim por diante. Mas, como saber se um determinado comportamento é uma adição? Temos algumas diretrizes1,2 que podem nos ajudar a ter mais clareza. As adições costumam ter cinco caraterísticas que nos permitem identificá-las:
1. Tolerância
É a necessidade cada vez maior de uma determinada substância ou recompensa para se obter o mesmo efeito. A tolerância indica que a pessoa nunca está satisfeita; ela sempre precisará de mais, com a ilusão de que, se tiver um pouco mais, tudo ficará bem.
2. Abstinência
É uma reação do organismo que, por estar acostumado a uma certa estimulação, gera estresse a mesma está ausente. A interrupção do comportamento aditivo é percebido como algo errado pelo sistema nervoso central e pode envolver desde uma simples irritabilidade até tremores ou pânico.
3. Autoengano
O autoengano é a nossa capacidade de nos iludir para manter o vício. Quando estamos acreditando que está tudo bem, que se tem controle sobre a adição, que se pode parar quando quiser e outras racionalizações, estamos num estado de autoengano.
4. Perda de controle
A pessoa adita tem a sensação de não ter mais controle sobre o seu comportamento. É possível identificar a perda de controle, por exemplo, pelas diversas tentativas frustradas de interromper o comportamento aditivo.
5. Distorção da atenção
O foco da adição tende a ser também o foco da atenção da pessoa. Ela pode passar boa parte do tempo imaginando como será quando ela estiver dentro do seu vício (por exemplo, imaginando um doce no fim do dia), pensa constantemente em como conseguirá se engajar na adição, formas de ter mais tempo para as adições etc. Ou seja, a adição passa a controlar grande parte da vida.
Nós todos temos, em algum nível, alguns tipos de adição. É importante avaliar o quanto o resto da nossa vida é afetada pelos nossos comportamentos aditivos. Quando se trata de adições mais sérias, que envolvem risco de vida ou de saúde, um tratamento é recomendado.
Referências
1. American Psychiatric Association (APA). (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (M.I.C. Nascimento et al., trad., A.V. Cordioli et al., rev. técnica). Porto Alegre: Artmed.
2. May, G. D. (1988). Addiction and Grace: Love and Spirituality in the Healing of Addictions. New York: Harper Collins.