A Síndrome de Burnout (ou esgotamento) já era um diagnóstico muito recorrente entre pessoas que trabalham no mundo corporativo e em outras áreas desgastantes, como saúde e educação. Uma pesquisa americana¹ identificou 23% de pessoas empregadas em burnout constante e 44% em burnout ocasional. Desde o início da pandemia, sua prevalência tem se tornado ainda maior, sendo um dos principais “efeitos colaterais” da Covid-19 na saúde mental da população.
Caracterizada por sintomas que mesclam ansiedade e depressão, o burnout é uma doença laboral que decorre de condições de trabalho desgastantes, como alto volume de tarefas, falta de reconhecimento, falta de autonomia e controle sobre as próprias atividades, assédio moral e aspectos culturais². Além desses aspectos, tivemos, com a pandemia, ainda mais fatores que causam estresse nos trabalhadores e que são específicos desse tempo, como:
- Perda dos limites entre vida pessoal e profissional
- Ser acessado em qualquer local e horário com aplicativos de comunicação (como WhatsApp)
- Perda de contato pessoal com colegas e de conversas que não sejam apenas referentes a trabalho
- Acúmulo de trabalho com outras demandas (tarefas domésticas, aulas dos filhos)
- Impossibilidade atividades de lazer (viagens, cinema, shows, contato com família e amigos)
No burnout, é comum que a pessoa sinta que a sua “bateria” acabou, se sentindo incapaz de realizar atividades que, em outro momento, já foram simples para ela. Dificuldade de concentração também é outro aspecto comum. O organismo está exausto e não consegue mais agir.
Embora um perfil pessoal de alta exigência consigo mesmo (perfeccionismo) podem aumentar a possibilidade do burnout, os principais fatores são externos à pessoa. Sendo assim, qual o papel da psicoterapia nesses quadros?
Um fator importantíssimo é que a terapia não acrescente mais um peso sobre a pessoa, dando a entender que ela é culpada pelo burnout ou que sair dele depende apenas dela. Ao contrário, é preciso identificar quais fatores externos têm trazido estresse e traçar uma linha clara entre o que está no controle ou não da pessoa.
É comum que se busque concomitantemente o atendimento psiquiátrico, já que, mais do que apenas medicar, o psiquiatra pode afastar a pessoa do trabalho. O afastamento é importante porque a pessoa com burnout necessita, primordialmente, de descanso.
Também podem ser abordadas na terapia expectativas que a pessoa possa ter em relação ao seu próprio desempenho, ajustes no retorno ao trabalho, estratégias para negociação de melhorias junto à empresa. Tudo isso além do que a terapia sempre oferece, que é apoio e suporte num ambiente sem julgamentos.
Empresas que levam a sério a saúde de seus funcionários devem olhar para casos de burnout com preocupação e buscar fazer mudanças internas que previnam o problema. Caso contrário, terão constantemente pessoas em afastamento, pouco produtivas e com muita rotatividade.
Sendo assim, o tratamento ideal para o burnout envolve mudanças no ambiente de trabalho, acompanhamento médico e psicológico. Quando se cerca o problema de todos os lados, com mudanças no contexto externo e interno da pessoa, é possível que ela se recupere e consiga manter-se saudável no trabalho.
Referências:
1. Gallup. Employee Burnout: Causes and Cures. https://www.gallup.com/workplace/282659/employee-burnout-perspective-paper.aspx
2. Roskam, I., Aguiar, J., Akgun, E., Arikan, G., Artavia, M., Avalosse, H., ... & Mikolajczak, M. (2021). Parental burnout around the globe: A 42-country study. Affective science, 2(1), 58-79.